E eis que chega a carta de apresentação de Jacob Banks
Texto: NUNO GALOPIM
Jacob Banks é dono de uma voz intensa, densa, encorpada, capaz de sublinhar, pelo canto, todo um quadro de emoções como sugerem as tradições dos blues e várias das suas heranças.
Com origem nigeriana, mas o seu quotidiano há muito feito em Birmingham (Reino Unido), foi precisamente pela voz que justificadamente começou a cativar atenções que o conduziram a presenças (ainda sem editora) em programas de rádio na BBC assim como a um EP de estreia em 2015 e, depois, aos vários singles e colaborações que se seguiram, às já várias presenças em bandas sonoras (de cinema e televisão) e a uma agenda de palcos que o levou já a acompanhar nomes como Emeli Sandé ou Alicia Keys. Assinado pela Interscope eis que se apresenta com um álbum de estreia que, depois de ter conhecido edição digital em finais de 2018, chega agora a suporte físico.
Uma vez mais é pela voz que a assinatura se impõe. É pessoal, característica, espantosamente moldável aos trilhos, atalhos e desvios que o alinhamento do disco coloca pela sua frente sem contudo perder nunca aquele sentido dramático de quem tem nos blues as mais remotas referências. Mas o que impede “Village” de ser um disco ainda mais memorável é precisamente a enorme dispersão de rotas e destinos estilísticos para onde o álbum aponta, assim como a extensão de um alinhamento que, se encurtado, teria ajudado a fazer do álbum uma carta de apresentação ainda mais promissora.
Apesar da excelência de alguns momentos como o poderoso “Chainsmoking” que abre o alinhamento captando heranças dos blues (que se projetam numa atmosfera contemporânea), uma experiência nas periferias da luminosidade pop em diálogo com dub e atmosferas mais carregadas em “Love Ain’t Enough”, a assimilação de raízes africanas, cruzadas com temperos pop e dubstep em “Keeps Me Going” (canção que evoca a etapa que viveu no seu país de origem), o enfrentar de linhas angulosas em “Be Good To Me” (em dueto com Seinabo Sey), a carga mais clássica de “Proseco” ou a exploração de paisagens ambientais de “Slow Up”, a reta final, feita de cinco baladas algo incaracterísticas (em formato verbo “encher”) acaba por danificar o todo. É verdade também que, além de reduzir o alinhamento a nove faixas, “Village” ganharia com a moderação de temperos. Não é preciso mostrar que se joga em tantas frentes ao mesmo tempo… Mas fica a curiosidade sobre o que o futuro pode guardar a quem aqui mostra sinais bem promissores.
Se lhe pudesse dar uma dica (mas não o conheço) diria: segue as pistas de “Chainsmoking” e “Slow Up” (ouvir mais abaixo), porque há ideias bem interessantes para esta voz por esses trilhos.
“Village”, de Jacob Banks, está disponível em LP, CD e nas plataformas digitais, numa edição da Interscope/Universal ★★★
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