1970. O momento em que o mundo descobriu Joni Mitchell
Texto: NUNO GALOPIM
Após dois primeiros álbuns nos quais tanto chamou a si canções suas que outras vozes já tinham gravado como lançou bases para uma escrita ainda mais pessoal, Joni Mitchell apresentou em 1970 um álbum que representou um início de transição entre uma etapa claramente dominada ainda pelas matrizes da folk e desafios maiores que a sua música viveria logo adiante.
Mesmo sem ter alcançado patamares maiores de visibilidade no grande mercado, os dois primeiros álbuns tinham reforçado a posição de Joni Mitchell entre a família de músicos na qual circulava. E assim tornou-se tudo menos uma estranha entre as movimentações que faziam da comunidade alternativa que então crescia pelo Laurel Canyon (e da qual ela mesma se tornaria uma figura destacada). “Ladies of The Canyon” levaria, agora, a sua voz mais longe.
Apesar de não apresentar soluções de arranjo mais elaboradas, e de em várias canções ser até relativamente minimalista a instrumentação, “Ladies of The Canyon” é o disco no qual Joni Mitchell junta a uma escrita já muito pessoal e poeticamente rica, uma vontade em trabalhar a presença da música num plano esteticamente mais complexo. O leque de instrumentos cresce em quantidade e diversidade de timbres. Além da guitarra e do piano, que não deixam de ter um papel protagonista na relação com a voz, e da flauta (que tinha habitual presença em terrenos da folk), ganham aqui visibilidade instrumentos como o violoncelo, o clarinete ou o saxofone.
Porém, sem o lote de grandes canções, que vincam uma vez mais a demarcação de uma identidade poética muito pessoal, “Ladies of The Canyon” não teria sido a peça marcante que foi na definitiva afirmação de Joni Mitchell entre uma geração de cantautores que ganhava grande visibilidade na viragem dos anos 60 para os 70. “Big Yellow Taxi” ou “Woodstock”, dos dois seus maiores clássicos, nasceram neste disco que conquistou atenções não apenas no Canadá e Estados Unidos (onde foi disco de platina), mas também noutras paragens, tendo chegado ao Top 10 de vendas no Reino Unido e ao Top 40 na Austrália. O belo segredo tinha deixado de o ser.
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