E se os russos tivessem partido para a Lua antes dos americanos?
Texto: NUNO GALOPIM
E se os russos tivessem chegado à Lua em primeiro lugar?… Esse foi o ponto de partida para “Countdown”, filme de 1968 de Robert Atlman que entre nós estreou como “Estrada do Inferno”. O filme surge numa altura em que o programa Apollo vive o momento difícil que se seguiu ao acidente (em terra) que em 1967 custou a vida a três astronautas num episódio de treino dentro da cápsula, mas em plena rampa de lançamento. O atraso que se verificou no programa real poderá ter estimulado uma dúvida alarmante para a Nasa: e se os russos, entretanto, estivessem também eles a preparar um programa lunar e, mediante este atraso, lhes passassem à frente e levassem uma missão tripulada à Lua em primeiro lugar?… E aqui entramos na ficção…
A ação começa por nos colocar entre os astronautas e técnicos da Nasa, em pleno programa de treinos, para uma missão lunar. E a notícia chega: os russos vão fazer um lançamento dentro de quatro semanas, antecipando em meses o programa americano. É a derrota? Na verdade havia um plano B… Uma missão para um homem só, que viajaria até à Lua numa cápsula Gemini modificada (ida sem retorno) e que ficaria na superfície lunar a viver durante uns meses numa pequena base (um módulo lunar) que para ali tinha já sido enviada em segredo… O ‘twist’ chega quando se sabe que os russos escolheram enviar à Lua um civil e não um militar, o que leva a Nasa a fazer uma opção semelhante, obrigando a que um astronauta que não estava escalado para a primeira missão seja, afinal, o primeiro com licença para voar…
É sobre este conjunto de situações que evolui uma narrativa que não junta muito mais ingredientes aos acima descritos para além das crises em espaço familiar que as situações e reviravoltas geram… Terá Damien Chazelle, o realizador de “O Primeiro Homem”, visto este filme?…. Talvez não, senão ter-nos-ia poupado aos elos mais fracos da sua aventura lunar…
“Countdown”, que conta com James Caan e Robert Duvall no elenco, é assinado por um Robert Altman ainda a dar primeiros passos na realização de longas metragens (este corresponde ao seu terceiro filme). E de facto não está ainda aqui o fulgor que encontraríamos mais tarde em vários filmes seus. Pelo contrário, esta “Estrada do Inferno” é fria e lenta na primeira etapa, ganha algum fôlego quando se aproxima o lançamento e deixa para os minutos finais o que devia ser o prato principal: a missão lunar (pelo que fica a saber a pouco). Apesar de tudo tem o mérito de ser uma trama de ficção contemporânea de um tempo em que o universo temático abordado estava na ordem do dia. Visualmente está por isso próximo das referências que então chegavam às revistas e aos noticiários, seja nas salas de trabalho, nas casas dos astronautas ou até nas instalações da Nasa (onde foram captadas algumas imagens de exteriores). E, como filme contemporâneo do programa Apollo, é um curioso retrato de como a ficção pode procurar histórias entre as frestas da realidade…
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