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Os dez melhores singles dos New Order

Seleção e textos: NUNO GALOPIM

Em contagem decrescente para o arranque de uma reedição integral (e com extras inéditos) da discografia clássica dos New Order, recordamos a sua história através de dez canções.

A primeira decisão foi a de continuar… Mas com que voz? A morte de Ian Curtis, na véspera da partida do grupo para a sua primeira digressão nos EUA deixou a vida dos Joy Division confrontada com um fim súbito. O desaparecimento do mítico vocalista e também timoneiro da visão lírica e estética do grupo implicou um fim de linha para os Joy Division. Mas não um ponto final para os restantes elementos da banda. Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris mantiveram-se ativos como trio e, depois de ensaios à vez, dos três coube ao primeiro assumir o papel de vocalista. Escolheram um nome inspirado por um artigo de jornal sobre o panorama político que então se vivia no Kampuchea. Mas o início do percurso dos New Order revelava algo ainda muito perto do que seriam uns Joy Division 2.0. O single de estreia juntava duas canções ainda compostas com Ian Curtis. E “Movement”, o álbum de apresentação, igualmente editado em 1981, mostrava ainda sinais evidentes de grande proximidade face ao que “Closer”, lançado já depois da morte de Curtis, havia proposto em 1980…

Era preciso mudar. E as mudanças foram chegando pouco depois. Primeiro com a entrada como quarto elemento de Gillian Gilbert que, apesar de os ter ajudado já antes como guitarrista, passou a ocupar um espaço que iria conhecer novo protagonismo na música do grupo: as teclas. Depois houve o afastamento do produtor Martin Hannett que, tendo assegurado em “Movement” as mesmas funções que antes desempenhara com os Joy Division, deixou o grupo na reta final de 1981, insatisfeito com o rumo que a música começava a tomar. A primeira viagem (finalmente) aos EUA colocou-os perante a descoberta de novas possibilidades que a música de dança então lançava à canção pop. Em 1983, com “Blue Monday”, a transição completava-se e daí em diante uma visão pop desafiante (e dançável) fez do grupo uma referência.

Houve depois separações, reencontros, novos caminhos, na verdade nunca o grupo tendo retomado o fulgor das visões que nos oitentas deles fizeram discos sem os quais se conta hoje a história da canção pop. Recordemos então dez das canções que fizeram dos New Order um nome fundamental da cultura pop na reta final do século XX.

1. “Blue Monday” (1983)

A definitiva prova de que estava concretizada a transição do que fora uma vida anterior nos Joy Division e o futuro dos New Order chegou com um single originalmente lançado no formato de doze polegadas, apresentando um tema longo, dominado por eletrónicas e claramente nascido da assimilação de vivências captadas entre uma nova cultura de dança. Nomes como os de Donna Summer, Sylvester ou Kraftwerk são apontados entre referências que ajudaram a moldar uma canção estruturada por uma programação rítmica irresistível e sobre a qual os New Order definiram o paradigma do que seria a sua identidade (pelo menos a que dominaria a sua restante obra gravada na década de 80). “Blue Monday” não só cimentou a nova identidade dos New Order como ajudou a transformar a canção pop feita com eletrónicas. A capa, desenhada para simular uma floppy disc, revelou ser contudo uma dor de cabeça financeira, fazendo com que cada exemplar vendido acabasse por custar mais dinheiro à Factory do que a dar-lhe o lucro que seria de supor.

2. “Bizarre Love Triangle” (1986)

Foi apenas com a chegada do álbum “Brotherhood” – o quarto da banda, lançado em setembro de 1986 – que os New Order começaram a extrair singles do alinhamento dos seus LP. Isso não impediu que continuassem a investir na criação de momentos especiais no momento do lançamento de novos singles, aproveitando sempre as ocasiões para explorar o potencial de sedução para a pista de dança das versões editadas nos doze polegadas. Mesmo assim houve ocasiões em que as próprias versões dos sete polegadas traduziam esse entusiasmo. E um dos casos mais evidentes é o da abordagem mais vincada pelas eletrónicas – e pelo piscar de olho à pista de dança – do segundo single extraído de “Brotherhood”. “Bizarre Love Triangle” não representou, na altura, um êxito global. Mas o tempo dele fez um excelente retrato do que era, afinal, a visão dos New Order em meados dos anos 80.

3. “True Faith” (1987)

A edição, em 1987, de uma primeira compilação de singles dos New Order levou o grupo a gravar dois inéditos para o disco. Surgiram assim “True Faith” e “1963”, tendo a escolha apontado ao primeiro, seguindo o segundo para o lado B (apesar de ter conhecido, mais adiante, em 1994, uma edição em single como lado A). “True Faith” representa uma continuação natural do trabalho criado entre os álbuns “Low Life” (1985) e “Brotherhood” (1986) e representou então o maior caso de sucesso do grupo desde “Blue Monday” (tendo inclusivamenre gerado, no Reino Unido, a sua melhor classificação até então na tabela de venda de singles). A canção foi acompanhada por um teledisco realizado e coreografado por Philippe Decouflé, que é hoje apontado como um dos mais marcantes dos oitentas.

4. “The Perfect Kiss” (1985)

Se cabe a “Low Life” (de 1985) a constatação definitiva do processo de transição face à memória dos Joy Division, a esse álbum corresponde também o momento em que os New Order deixam de estabelecer uma separação entre o que lançam nos formatos a 45 e 33 rotações. Até então os singles não tinham conhecido representação no alinhamento dos álbuns, uns e outros desempenhando episódios distintos na construção da discografia do grupo. “The Perfect Kiss” foi então o primeiro single dos New Order extraído do alinhamento de um álbum, servindo de perfeito cartão de apresentação para o corpo de canções que ali se reuinia. O single foi acompanhado por um teledisco realizado por Jonathan Demme que, em lugar de uma construção elaborada, optou por mostrar o grupo a tocar num estúdio (notando-se numa das paredes um poster dos Joy Division).

5. “Fine Time” (1988)

Chegados a 1988 os New Order assistiam a um processo de contaminação do panorama pop/rock pela a música de dança. Afinal, era algo que eles mesmos haviam experimentado alguns anos antes e com consequências fulcrais na determinação do que seria afinal a sua identidade (para lá, portanto, dos ecos naturais que traziam dos tempos dos Joy Division). Passaram parte do ano em estúdio a trabalhar num novo álbum, com as importantes sessões registadas em Ibiza e, depois, nos estúdios da Real World, no sul do Reino Unido. Perante a necessidade de lançar um single como avanço de um álbum que ainda não estava pronto, coube ao manager (e também fundador da Factory Records) Rob Gretton escolher uma das canções. E apontou o dedo a “Fine Time”, talvez o single dos New Order que mais reflita o burburinho da cultura ‘acid house’ que então cativava atenções.

6. “Temptation” (1982)

O processo de gradual transição entre uma etapa inicial (em 1981), na qual eram ainda evidentes os ecos da vida anterior como Joy Division e o definitivo achado de um caminho novo (que chegou em 1983 com “Blue Monday” e o álbum “Power Corruption and Lies”), foi sendo desenhado através de uma sucessão de singles nos quais se tornaram progressivamente mais evidentes as presenças das eletrónicas e de ecos de uma viagem a Nova Iorque que abriu horizontes tal como, e depois, de “Everything’s Gone Green”, se notou a ausência do produtor Martin Hanett. Editado em 1982, assinalando esse tempo de transição que então se vivia, o single “Temptation” revela já bem evidente uma relação dos New Order com uma noção muito mais pessoal do que poderia ser a canção pop e, no máxi, um já claro mergulho entre as possibilidades que as novas máquinas colocavam nas mãos dos músicos.

7. “Touched By The Hand of God” (1987)

A edição, em 1987, da antologia “Substance”, cimentou de forma decisiva o estatuto internacional dos New Order, abrindo uma etapa em que as suas canções foram projetadas para audiências maiores, servindo-se então o grupo do poder de comunicação que o teledisco lhes podia conceder. Foi assim que, ainda antes de criado um novo álbum (que surgiria apenas em 1989) o grupo apresentou, ainda nesse mesmo 1987, um novo single com uma canção originalmente composta para a banda sonora de “Salvation”, de Beth B. Uma remistura da canção chegou a single, acompanhada por um teledisco no qual o grupo parodiava as bandas metal com travo glam que então somavam êxitos sobretudo nos EUA. Na sua essência “Touched By The Hand of God” continua na linha das ideias exploradas no anterior “Brotherhood”, de 1986.

8. “Regret” (1993)

Depois de “Techinque”, o disco que assistiu a um convívio dos New Order com um interesse generalizado pelas novas visões que a música de dança pode revelar à canção pop, os New Order viveram entre finais dos anos 80 e início dos 90 um momento de pausa, cada qual mergulhando então em projetos paralelos. Bernard Sumner aliou-se ao ex-Smiths Johnny Marr para (com a participação dos Pet Shop Boys) criar os Electronic. Peter Hook criou os Revenge. E Gillian e Stephen formaram os The Other Two. O regresso a estúdio fez-se num turbilhão de desordens financeiras que, amplificado por uma experiência contemporânea dos Happy Mondays, conduziu a Factory Records a um ponto de rutura. Apesar da mais longa pausa que se seguiu, o grupo sobreviveria, representando “Republic” não só o fim de um primeiro ciclo de vida como, logo ali, o lançar de pistas para o que seriam os caminhos a tomar depois de uma reunião que chegaria cinco anos depois. “Regret”, single de estreia de “Republic” pode ser visto como o primeiro single do resto da vida dos New Order…

9. “Ceremony” (1981)

A estreia em disco dos New Order fez-se com um single que representa ainda uma clara ligação aos Joy Division. “Ceremony” foi uma das últimas composições criadas em conjunto com Ian Curtis e há, de resto, várias gravações da canção em discos dos Joy Division (como por exemplo “Still”). No lado B surgia “In a Lonely Place”, que, tal como “Ceremony”, apresentava autoria creditada aos Joy Division. O single assinalou a estreia em disco dos New Order na sua formação inicial com apenas os três ex-Joy Division. Após a entrada de Gillian Gilbert, o tema foi regravado e novamente editado, uma vez mais com produção de Martin Hannett… Em ambas as versões as afinidades com o passado direto da banda são notórias, sugerindo o single uma noção de continuidade que só pouco depois procuraria a exploração de novos desafios, talhando assim uma outra identidade.

10. “Everything’s Gone Green” (1981)

A presença com maior protagonismo das eletrónicas já se tinha notado em “Procession” mas é com o single seguinte, criado já depois de primeiras visões colhidas em Nova Iorque, que uma vontade em explorar novos desafios com sequenciadores e o apelo à pista de dança tomam conta da música dos New Order. Foi durante as sessões de gravação deste single que o produtot Martin Hannett sentiu que aquele não era mais o seu caminho. Afastou-se… E os New Order talharam aqui o primeiro passo para uma mudança de rumo que os levaria para longe, rumo à descoberta de uma nova identidade.

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