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Bordalo II leva uma exposição-manifesto a Paris

Texto: NUNO GALOPIM

Tem o título “Accord de Paris” e reflete sobre a “devastação perpetrada pela sociedade de consumo sobre a natureza”, como ele mesmo descreve. Num espaço do 13º bairro da capital francesa podemos agora encontrar 30 esculturas de animais ameaçados de extinção.

Foto: Raymesh Cintron

Não foi por acaso que, ao surgir Paris no roteiro das exposições de Bordalo II, o título “Accord de Paris” apareceu a dar nome ao conjunto de propostas que até 2 de março podem agora ser vistas num espaço outrora devoluto no 13º bairro da capital francesa. A cidade surgiu primeiro mas, e como Artur Bordalo explica, dadas as “preocupações ambientais” que o seu “trabalho revela”, este seria “o tema mais atual e o nome que se encaixava da melhor forma”. E por isso mesmo, refletindo sobre a “devastação perpetrada pela sociedade de consumo sobre a natureza”, ali encontramos 30 esculturas de animais ameaçados de extinção. São peças que representam várias séries nas quais Bordalo II tem vindo a trabalhar e que nascem de uma ação artística sobre materiais encontrados no lixo.

Bordalo procura sempre que o seu trabalho “não se torne meramente superficial e decorativo” e vinca que para si “é mais importante o que transmite do que ser agradável à vista”. Mas, “a partir do momento em que as temáticas são elementos da natureza e todo o material usado é praticamente o oposto à sua sobrevivência”, Artur crê que se torna “óbvia essa relação” com as ideias. “O que interessa não é estar lá a imagem do animal ou ser uma coisa bonita feita com o lixo”, mas sim falar dos desperdícios “e da pegada ecológica que a nossa ação acaba por ter no mundo e no meio ambiente em geral”.

Os principais objetivos da arte de Bordalo não são apontados a uma mudança de atitudes de quem hoje está no poder, mas antes afinam pontaria à formação dos mais jovens. “A minha arte chega às pessoas e são elas quem vota, quem passa a ter ideias, que defendem o que acham certo e errado, que formulam opiniões”, diz Artur, explicando que é a “esses” que quer chegar, pelo que não lhe interessa focar-se “numa personagem só”. Prefere por isso “investir na educação e na cultura das gerações mais novas”. Porque acredita que só ali estará a possibilidade “de mudança a médio ou curto prazo”.


Foto: Miguel Portelinha

Depois de ter apresentado uma outra exposição de grande sucesso em Lisboa, Artur Bordalo explica que não foi necessário mudar o discurso para agora apresentar estas obras em Paris. “Vivemos numa sociedade cada vez mais globalizada, tanto para as coisas boas como para as más, mas neste caso a preocupação é global”, reconhece, lembrando como as alterações climáticas são expressão de como ações locais podem ter depois implicações à escala planetária. Os materiais que Bordalo emprega – e neste caso o lixo que lhe serve de matéria prima foi recolhido em Lisboa – são usados “de forma simbólica”, já que “o que interessa é o que transmite”, explica. Bordalo conta-nos que teve de “recolher bastante material novo” para fazer as peças que agora estão em Paris. Mas “há sempre coisas que ficam esquecidas no estúdio, que estavam lá há já dois ou três anos e que, quando parece que já não vão servir para coisa nenhuma” um dia olha para elas e acaba por “incorporá-las numa peça que é nova”.

Artur Bordalo tem dúvidas sobre chamar street art à arte que faz. E diz-nos que, muitas vezes se chama street art às criações de artistas da sua geração que trabalham na rua. “Mas isso acaba por fechar um grupo de artistas numa caixa, apenas porque fazem coisas na rua”, comenta, observando que não é fácil estabelecer limites do que é ou não a street art. “É arte dos dias de hoje, contemporânea, e provavelmente muito do trabalho” que faz na rua “pode ser mais completo se tiver uma componente indoor, como neste caso, seja num museu, numa instituição, numa galeria”. E nota que as séries que faz na rua são “completamente diferentes” das que apresenta “no espaço interior”, o que se deve “ao tipo de materiais usados, à sala, ao grau de pormenor que as peças possam ter”. Em suma: “fazer arte pública e peças mais pequenas dentro de instituições” fazem ganhar uma perceção mais correta do que pode ser “o conjunto completo”. Em Paris, acrescenta, o local onde está patente a exposição “não é uma galeria, mas sim uma parceria com uma galeria num espaço que estava devoluto”. E ali o sentido de liberdade foi total para poder apresentar o que agora ali podemos ver.

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