Cenas de um debate conjugal
Texto: NUNO GALOPIM
No início era uma peça de teatro. Assinada por Daniel Pearle, teve estreia em palco em 2013, ou seja, bem antes de o próprio autor do texto o ter transformado num argumento para cinema. O projeto começou a desenhar a sua forma com a realização de Silas Howard (um nome premiado no circuito dos festivais de cinema queer, sobretudo com “By Hook or By Crook”, de 2001), mas ganhou sobretudo corpo com os papéis protagonistas entregues a Claire Danes e a Jim Parsons.
“Uma Criança como Jake” é um filme sobre uma relação conjugal, centrado no modo como um casal reage – de modo distinto – à tomada de consciência da identidade de género do seu pequeno filho, com cinco anos. Jake gosta de contos de fadas. E gosta sobretudo de vestir a pele das personagens que o encantam. A evolução da narrativa acompanha o cada vez mais tenso debate entre um pai psicólogo e uma mãe advogada (mas que abdicou da profissão para acompanhar os primeiros anos do filho), ambos divididos no modo de encarar o futuro da educação de Jake.
O dispositivo realista que a realização procura seguir não perde nunca a concentração dos focos de atenção no que era já a essência do texto para teatro. O confronto do casal perante uma realidade não normativa é a espoleta para um filme que, mesmo tendo o pequeno Jake como mote, revela na verdade a sua identidade no afloramento inesperado de uma crise conjugal. Tempestade que muito ganha no contraste entre contenção do psicólogo interpretado por Jim Parsons e o fulgor das reações da mãe, num papel que nos lembra que sabe bem rever Clare Danes para lá do pequeno ecrã.
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