Quando Fritz Lang foi à Lua sem fazer barulho
Texto: NUNO GALOPIM
Dois anos depois de ter estreado o imensamente influente “Metropolis” o realizador alemão Fritz Lang apresentou o primeiro filme sobre a conquista da Lua com um argumento claramente interessado em explorar o que então a ciência sabia e a ficção científica imaginava. Estamos por isso num patamar narrativo de complexidade consideravelmente maior do que a que fizera da visionária viagem à Lua de Meliès, na alvorada do século, um marco na história do cinema fantástico. Não faltavam já, em finais dos anos 20, inúmeros livros imaginando viagens à Lua (assim como histórias de contactos com os seus eventuais habitantes, os selenitas). Fritz Lang escolheu como ponto de partida o romance “Die Frau Im Mond”, de Thea von Harbou, que era sua colaboradora e com quem na altura o realizador estava casado. E de um esforço de produção que inclui nove meses de rodagem entre outubro de 1928 e junho de 1929, assim surgiu o filme que entre nós é conhecido como “A Mulher na Lua”.
O filme apresenta uma trama de aventura de empreendedores que acreditam haver ouro na Lua. E focan um grupo que prepara a viagem e outro que o espia, acabando por lançar um ultimato: ou iam todos ou o foguetão seria alvo de sabotagem. A missão lá parte, levando uma tripulação que incluí a presença de uma mulher (Fireda, que é a assistente do principal responsável pela ideia) e, para surpresa de todos, um rapazito que ali entrou à socapa e que com ele levou para bordo revistas com histórias de ficção científica. As pulp magazines, antes mesmo de influenciarem outras mais histórias no cinema, surgiam elas mesmas num filme… A missão chega a seu termo, mas a estadia na superfície da Lua é ainda mais atribulada do que os jogos de ambição antes da partida. Há enganos, azares… E depois de um acidente fica claro que não há oxigénio a bordo para todos regressarem. Tiram à sorte para ver quem fica (uma vez que, segundo o filme, há oxigénio na face oculta da Lua)… A rifa sai a um engenheiro. E a jovem Frieda resolve ficar com ele.
Longo (tinha 156 minutos na versão original e há um restauro datado do ano 2000 com 200 minutos de duração), o filme desenvolve lentamente a trama e, como em muitos casos do cinema mudo, exige tempo para o avançar da narrativa. A paciência (do espectador) é compensada quando chegam as sequências associadas à viagem no espaço e à chegada e exploração da Lua. Na verdade lançam-se aqui algumas ideias que fariam história. Uma delas é a contagem decrescente antes da partida, que seria adotada pelos programas espaciais. Antecipando outros factos que viriam a ser reais, o figuetão – que também se chama Frieda – é construído num hangar e levado, já montado, para a rampa de lançamento. E, dentro do veículo (se bem que não numa cápsula) os viajantes partem em camas para assim suportarem melhor as forças exercidas no momento da descolagem. Tal como sucederia com os foguetões Saturno que levaram as missões da Nasa à Lua, também este largou um andar no espaço antes de avançar viagem… Já agora, vale a pena saber que entre os consultores científicos que Fritz Lang empregou neste projeto estava o engenheiro Hermann Oberth, um dos pioneiros da ciência dos foguetes… E entre os que firam com entusiasmo o filme encontrava-se um jovem Wernher von Braun, ou seja, o mesmo que depois viveu, já na Nasa, a aventura de levar os seres humanos à Lua.
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