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O álbum “clássico” dos Soul II Soul faz hoje 30 anos!

Texto: NUNO GALOPIM

Editado a 10 de abril de 1989, o álbum “Club Classics – Vol 1”, dos Soul II Soul, representou um episódio de reanimação do R&B britânico através de um alinhamento onde se cruzavam a música soul, o hip hop e ecos de África. Uma atitude positiva era ainda marca da sua identidade.

Foi na cidade de Londres, ainda em finais dos anos 80, que o coletivo começou a cativar atenções. Atuava como um sound system, tanto em espaços fechados como em festas de rua. E cedo juntou à música um look. Jazzie B, Caron Wheeler, Doreen Waddell, Rose Windross, Daddae, Aitch B e Jazzie Q estavam a bordo em 1988, ano em que surgem dois primeiros singles: “Fairplay” (com voz de Rose Windross) e “Feeling Free” (com Do’Reen)… São primeiros sinais que cativam algumas atenções e preparam a chegada de duas canções, ambas com voz de Caron Wheeler, que, já em 1989, fizeram dos Soul II Soul um dos casos maiores do R&B do final dos anos 80 e, do seu álbum de estreia “Club Classics – Vol. 1”, um verdadeiro… clássico. As canções, claro, são “Keep On Movin’” e “Back To Life”, os dois momentos maiores de toda a obra dos Soul II Soul.

Há que ter em conta o contexto em que tudo ocorre. Por um lado, e já desde há algum tempo, o cenário R&B britânico não conhecia a visibilidade de tempos anteriores, cabendo por isso ao que então chegava dos EUA um mais evidente protagonismo neste campo. Contudo, e apesar das origens norte-americanas, os efeitos da assimilação da house e do hip hop começavam a desenhar reações deste lado do Atlântico. E entre o coletivo liderado por Jazzie B que tinha surgido em Londres na reta final dos anos 80 cruzavam-se caminhos. Os do R&B (e da música soul em particular). Os do hip hop… E ainda mais um importante elemento: a presença de ecos da música africana. É nesta encruzilhada, conduzida por grandes vozes soul (partilhando por vezes o espaço com a voz do MC) e animada por batidas atentas aos sinais do tempo, e ocasionalmente aceitando contaminações do jazz (como se escuta, por exemplo, em “African Dance”), que emerge um disco que marcou o seu tempo e causou descendências importantes.

Com o trabalho de produção dividido entre o próprio Jazzie B e Nelee Hooper (elemento dos Wild Bunch, o que junta aqui alguns ares do que então começava a acontecer por Bristol), “Club Classics – Vol. 1” revitalizou o R&B britânico e gerou um entusiamo que se materializou numa série de discos e artistas locais que, na sequência do impacte deste disco, viram a sua música a acrescentar novos episódios de visibilidade maior na cena R&B brit da alvorada dos anos 90.

Vale a pena estabelecer ainda uma afinidade, no plano da filosofia de vida, com o que na mesma altura ganhava forma com o álbum de estreia dos De La Soul e imediatas consequências. Uma atitude positiva e pacifista, a música como espaço de união e partilha, de cruzamento do presente e memórias (de discos e culturas), eram verdade que animava a alma dos Soul II Soul. E podemos recordar a frase que Jazzie B dizia, a dada altura, em “Jazie’s Groove” (onde explica a história e identidade do grupo), quando tentava imaginar o futuro dos Soul II Soul: “a happy face, a funkin’ bass, for a lovely race”…

É verdade que hoje dificilmente olhamos a obra dos Soul II Soul para lá de “Club Classics – Vol. 1”. Editado em 1990 o álbum “Volume 2 – 1990 A New Decade” procurava uma continuação direta das linhas traçadas pelo álbum de estreia, somando ainda alguns momentos de atenção considerável com os singles “Get A Life” e “A Dream’s a Dream”. Kym Mazelle, chamada para cantar em “Missing You”, juntou mais um single de sucesso à discografia do coletivo, embora já sem o grande impacte global de outrora. Caberia, em 1992, a “Joy”, single de apresentação de “Volume III – Just Right”, o papel de ser o derradeiro caso de grande impacte de uma canção dos Soul II Soul, apesar das melhores vitaminas house que animavam “Move Me No Mountain”, do mesmo álbum. Depois de um “Volume IV” editado em 1993, que era afinal um ‘best of’ com um inédito, o “Volume V – Believe” fechou um ciclo de álbuns procurando seguir ainda as marcas de identidade do grupo. Um derradeiro álbum, com o título “Time For Change”, foi editado em 1997, mostrando sinais de assimilação do drum’n’bass, incursões por referências mais próximas do R&B americano e ainda ecos de outros tempos na carreira dos Soul II Soul… Sem surpresa o fim chegou depois…



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