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Outros ritmos e percussões que chegam de Chicago

Texto: NUNO GALOPIM

Nunca é tarde para uma estreia. E, aos 82 anos, Philip Glass apresenta uma obra exclusivamente pensada para instrumentos de percussão. Quem a grava? Os Third Coast Percussion, de Chicago, num disco que inclui ainda música original de elementos do grupo e ainda uma peça de Gavin Bryars.

São um quarteto de Chicago integralmente devotado à exploração de música para instrumentos de percussão. Formados em 2004 começaram por ter uma existência flutuante, irregular. Definiram bases de trabalho em várias frentes, entre as quais a associação a projetos educativos, fazendo regularmente trabalhos com a Civic Orchestra of Chicago, acabando por fixar a sua formação e criar uma agenda regular de trabalho a partir de 2013. Desde então têm estado na linha da frente da atenção de várias instituições e compositores, tendo vindo a ser protagonistas da escrita de uma série de obras que neles conhecem assim a sua estreia mundial. Ao mesmo tempo têm desenvolvido uma associação regular a compositores emergentes que com eles vão trabalhando, cada um, ao longo de um ano. Têm acolhido assim, no seu universo, novas obras que foram juntando a outras já antes estreadas e até mesmo gravadas, assim como desde cedo foram criando um corpo de composições assinadas pelos próprios membros do quarteto. Sem surpresa abordaram já em disco obras de compositores como John Cage ou Steve Reich, este último no álbum “Thirs Coast Percussion / Steve Reich” (2016) que lhes valeu o primeiro Grammy na categoria de música de câmara atribuído a um grupo de percussão.

No seu álbum de 2018 “Paddle to The Sea” incluíram, além de composições próprias, uma abordagem para instrumentos de percussão a “Águas da Amazónia”, de Philip Glass. Talvez só por essa altura muitos se tenham apercebido de que, apesar da importância da exploração do ritmo nas suas obras, nunca o compositor havia composto para apenas instrumentos de percussão. Havia que resolver esta peça em falta na obra de Glass. E eis que surge assim o convite para compor para o Third Coast Percussion, assim nascendo “Perpetulum”, que agora tem estreia em disco numa pela Orange Moutain Music. A peça começa por explorar timbres e padrões de percussão que têm passado por alguma da música recente de Glass, mas abre depois horizontes à exploração de outras possibilidades num quadro onde a familiaridade e a surpresa se cruzam. O disco junta a Philip Glass um outro nome maior da música do nosso tempo: Gavin Bryars, de quem escutamos “The Other Side of The River”. O alinhamento inclui ainda três obras criadas por elementos do grupo. Há duas peças curtas de Peter Martin e Robert Dillon e a mais extensa “Aliens With Extraordinary Abilities”de David Skidmore. E aqui está, juntamente com a nova composição de Glass, outro motivo para não perder de vista este disco, numa composição bem estruturada, dividida em sete partes, que tanto explora heranças do minimalismo como pisca olho a ecos de universos desafiantes da música eletrónica atual (a dada altura, a escutar “Agree”, a segunda parte desta peça, olhei bem para o disco, não fosse ter-me enganado e colocado antes a tocar um álbum da Cinematic Orchestra).

“Perpetulum”, dos Third Coast Percussion, está já disponível nas plataformas digitais, numa edição da Orange Mountain Music. Uma edição em CD está agendada para maio.

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