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Retratos de Jeff Buckley a caminho de gravar o seu primeiro álbum

Texto: NUNO GALOPIM

Lançado em formato de LP em vinil por ocasião da edição deste ano do Record Store Day, “In Transition” junta momentos de sessões de estúdio de Jeff Buckley num momento em que começava a preparar o caminho para criar (e gravar) o seu álbum de estreia.

Com apenas um álbum editado em vida, Jeff Buckley teve em “Grace” (editado há 25 anos) o passaporte para um reconhecimento imortal que dele fez um ícone maior – e trágico – entre a sua geração de músicos. A sua morte, num momento em que trabalhava num segundo álbum, não significou, porém, o ponto final numa discografia que, como poucas, tem vindo a tornar públicas uma impressionante série de gravações de arquivo, de captações ao vivo a maquetes e registos em estúdio. “In Transition”, que acaba de surgir por ocasião da edição de 2019 do Record Store Day (RSD), é mais um título a juntar a uma discografia que parece não ter fim.

Ao contrário do que chegou a ser sugerido – em comunicação do próprio site do RSD – o disco não corresponde a um retrato da sua “primeira” sessão em estúdio para a Columbia Records. Estamos, de facto, em 1993, mas antes numa pequena coleção de takes registados, em várias sessões, no estúdio nova iorquino Shelter Island Sound, com Steve Addabbo e Steve Berkowitz no outro da mesa de gravação. Este é, assim, um retrato escolhido das designadas “Addabbo Sessions”, como refere o texto de Mary Gilbert, a mãe de Jeff Buckley, que podemos ler na capa interior do LP.

Em estúdio Jeff Buckley está apenas acompanhado pela sua guitarra, ora experimentando abordagens a canções suas – como “Mojo Pin”, “Unforgiven” (que acabaria em “Grace” com o título “The Last Goodbye”) ou “Strawberry Streeet” (que em 2004 seria incluído na Legacy Edition do seu álbum de estreia) – ou a versões de autores e intérpretes que admirava. Está aqui, por exemplo, uma abordagem a “Hallelujah” de Leonard Cohen que tateia o caminho que depois seria fixado no álbum de 1994. Assim como há uma (belíssima) incursão pela memória de “Je N’en Connais Pas La Fin”, imortalizada por Piaf, que ele mesmo então registaria, nesse ano, num EP gravado ao vivo no café Sin-É, onde então atuava regularmente. Uma versão de “If You Knew”, de Nina Simone, que também seria gravada ao vivo no Sin-É surge também neste alinhamento que inclui ainda uma leitura de “Satisfied Mind” (um velho clássico dos anos 50 que teve versões por nomes como os de Ella Fitzgerald, Byrds ou Bob Dylan), que surgiria no alinhamento de “Sketches For My Sweetheart The Drunk”, já depois da morte do músico.

O título do LP sugere o que, de facto, aqui se escuta: uma transição. Encontramos o músico habituado a lidar com as canções em diálogo entre a voz e a guitarra, num momento em que deixa a solidão do quarto e o já conhecido espaço do café Sin-É para mergulhar na descoberta de novas possibilidades em estúdio. As gravações revelam sinais de demandas ainda em curso, com as versões bem mais seguras e moldadas do que os originais ainda em busca de forma. É um documento para os mais acérrimos admiradores… Ouve-se bem (sobretudo as versões)… Mas é apenas interessante como retrato de um momento de mudança anunciada. Na verdade pouco realmente acrescenta ao já vasto corpo de gravações anteriormente publicadas. O filão ainda pode ter minério… Mas dificilmente gerará mais pepitas.

“In Transition”, de Jeff Buckley, está apenas disponível em LP numa edição da Columbia Legacy.

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