Os Duran Duran, nos tempos da gritaria na plateia
Texto: NUNO GALOPIM
Os Duran Duran passaram os últimos meses de 1983 e os primeiros de 1984 na estrada. A Sing Blue Silver Tour assinalava o seu estatuto de protagonismo no panorama pop da época, assim como vincava a sua relação com novas ferramentas visuais, nomeadamente a utilização de ecrãs vídeo em concerto, o que nunca antes havia acontecido a toda a extensão de uma digressão. Esta seria, até à digressão de reencontro da banda, já na presente década, a sua mais bem-sucedida e mediatizada aventura na estrada, gerando um filme (“Arena, na Aburd Notion”, de Russel Mulcahy), o documentário “Sing Blue Silver”, o filme-concerto para televisão “As The Lights Go Down”, um livro de fotografias, lados B, um single e um álbum ao vivo. Este último, com o título “Arena”, foi editado em novembro de 1984, sob cerrada crítica, em grande parte centrada na quase inexistência da presença do público na mistura final do álbum… E, de facto, basta ouvir os bootlegs da época para recordar como as plateias se faziam notar de forma bem evidente durante os concertos, reeditando uma gritaria característica dos dias da Beatlemania… A opção da produção, assumida pelo grupo, foi a de abafar, quase ao ponto de suprimir, a presença de sons provindos da plateia, mostrando o álbum uma banda que quase parece entregue ao trabalho de estúdio, mínimas sendo as diferenças face ao que se conhecia das versões em disco. Convenhamos que parecia mais um ‘best of’… E como álbum ao vivo é claramente o menos interessante de toda a discografia do grupo.
Com a entrada em cena das plataformas digitais uma série de registos ao vivo guardados nos arquivos dos Duran Duran viu a luz do dia, ilustrando algumas das suas mais marcantes digressões. Entre esses discos apenas com edição digital estava um documento áudio da Sing Blue Silver Tour, apresentado com o mesmo título do filme-concerto, já que resultava da mesma série de gravações nas três noites, de 12 a 15 de abril de 1984, em que o grupo atuou em Oakland, nos EUA. Se a abordagem musical é a mesma das memórias de “Arena”, já a intensidade da presença da plateia é outra, com momentos de guincharia a invadir, sobretudo, o tema de abertura “Is There Something I Should Know?”, que correspondia à abertura das cortinas depois de uma introdução pré-gravada ao som do instrumental “Tiger Tiger”.
O alinhamento cobre os três álbuns que o grupo havia já editado, curiosamente destacando mais “Rio” (de 1982) do que o mais recente “Seven and The Ragged Tiger”, lançado poucos meses antes. Na verdade esta é uma constatação que se faz perante o alinhamento do álbum e não o dos concertos apresentados onde, além de “Union of The Snake” e “The Seventh Stranger”, a representação do álbum de 1993 se fazia ainda com “New Moo non Monday” (editado como single no início de 1984), “The Reflex” (que seria single pouco depois, embora numa remistura de Nile Rodgers), “Of Crime and Passion” e “I’m Looking For Cracks In The Pavement” (que surgiria, em versão ao vivo”, no lado B de “Wild Boys” no final do mesmo ano). De facto, o alinhamento de “As The Lights Go Down” não traduz ainda uma fiel representação do que era um concerto dos Duran Duran nesse tempo. Para deixar as contas certas, e além dos temas acima referidos (do álbum de 1983), no disco não surgem também “Friends of Mine” (do álbum de estreia) e “My Own Way” (de “Rio”). E havia espaço, já que o duplo vinil deixa uma face em branco… Mesmo assim, para já, esta é a mais recomendável das memórias de palco na etapa de maior popularidade à escala global dos Duran Duran.
“As The Lights Go Down”, dos Duran Duran, está disponível em 2LP (e também nas plataformas digitais) numa edição da Parlophone
Deixe uma Resposta