Uma incursão pelos espaços da produção da última temporada de “A Guerra dos Tronos” é a proposta de “A Última Patrulha”, documentário que valoriza a dimensão plural e o trabalho de equipa por detrás da série. Para ver apenas depois dos episódios, OK?

Os segredos têm de ser bem guardados. E convenhamos que o final de “A Guerra dos Tronos” chegou sem que, antes, alguém soubesse qual o desfecho da história. Levantaram-se vagas de opinião, que isto e que aquilo… Quando na verdade a narrativa mais não fez senão seguir a lógica feita de surpresas, reviravoltas e saídas desconcertantes que sempre habitou o tutano da história. Ninguém esperava este fim… Nem mesmo os atores que, numa das mais emotivas sequências do documentário “A Última Patrulha”, descobrem o que vai acontecer à trama e às suas próprias personagens no primeiro ensaio de leitura dos episódios da oitava e derradeira temporada da série.

Como condensar num documentário (de longa metragem) um ano de trabalho que, na verdade, é todo o final de um percurso de uma popularidade e de uma dimensão de produção sem par na história da ficção televisiva? Esse foi o desafio que Jeanie Finlay carregou nos ombros ao longo de um ano, captando olhares e palavras que vão desde os escritórios de produção ou do food truck de serviço (cuja tosta ficou célebre) às maratonas de caracterização e guarda roupa, naturalmente sem esquecer os bastidores da rodagem de dois dos mais complexos episódios da temporada (um vivido em Winterfell, o outro em King’s Landing, e mais não se diz para não fazer spoiler).

Jeanie Finlay optou (e bem) por não fazer de “A Última Patrulha” um making of ensopado no star power do elenco. Os atores surgem quando a narrativa o exige, mas na verdade há outras figuras que aqui assumem maior protagonismo, sejam elas a produtora executiva da série ou a responsável pela equipa de caracterização. Ou até mesmo um figurante – a que a legendagem da HBO chama “extra”, ou seja, traduzindo literalmente do inglês – que durante anos a fio vestiu a pele de um soldado ao serviço da família Stark e cuja presença na série chegou mesmo ao derradeiro episódio desta última temporada.

A criação dos adereços, o cuidado no guarda roupa, as soluções de caracterização e a própria construção de cenários – King’s Landing, apesar de se servir de Dubrovnik para muitos olhares, foi em parte recriada num terreiro em Belfast, junto aos escritórios da produção – sublinham, por sua vez, a aposta na materialidade na criação das imagens. Uma opção que segue caminhos seguidos por Peter Jackson na trilogia “O Senhor dos Anéis” e que tem dominado também a recente reativação do universo “Star Wars” e que, apesar da evidente presença de cuidada de efeitos criados em pós-produção digital, sublinha uma alma mais visceral que sempre conferiu aos episódios de “A Guerra dos Tronos” um travo de realismo (o que parece um contrassenso já que de trata de uma ficção nos domínios da fantasia). Uma das responsáveis pelos cenários da oitava temporada sublinha que a dimensão real dos cenários – ruas, casas, muralhas – chegou na oitava temporada a uma dimensão tal que só assim ficou claro para muitos que a série tinha de acabar. Tudo crescera de temporada para temporada… Em termos de produção era como fazer um filme por episódio… Mas com menos dinheiro e muito menos tempo…

Ao contrário da série, o final do documentário não é coisa para fazer surpresa… E como nos velhos tempos dos campos de férias, todos se despedem uns dos outros com lágrimas dos olhos. Foram uma família durante dez anos… Há quem espere um reencontro num outro projeto da mesma dimensão… Todos ficam aliviados por segundos. Mas sabem que esta foi a aventura profissionais das suas vidas.