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Prince e os outros… uma história em 15 canções

Texto: NUNO GALOPIM

Depois de “Piano and a Microphone 1983” o segundo álbum póstumo de Prince com gravações inéditas apresenta uma coleção de 15 versões, na sua voz, de canções que o artista criou para outros, das Bangles ou Sheila E aos The Time ou Kenny Rogers.

Foi a questão que muitos levantaram depois de conhecida a notícia da morte de Prince. O que estaria no seu “The Vault”? Ou seja, o “cofre”, ou melhor, o arquivo do seu material gravado… E, tão pertinente quanto essa pergunta, o que iria acontecer a esse mundo de gravações que, já todos supunham, poderia ser coisa de dimensões colossais… As respostas começaram a chegar aos poucos, a primeira logo em finais de 2016, com a revelação de uma “sobra” das sessões de gravação do álbum “1999” que surgiu na compilação “Prince 4Ever”. Das sessões de “Purple Rain” nasceram extras para uma reedição especial do álbum histórico de 1984)… E em 2018 a parada subiu com um álbum inédito feito de gravações para voz e piano captadas em sua casa em 1983 e o lançamento em single da maquete do clássico “Nothing Compares 2U”, que conhecíamos na versão com a voz de Sinéad O’Connor. Foi precisamente este single o ponto de partida para o que agora encontramos neste segundo álbum póstumo de Prince. Um disco que à maquete de “Nothing Compares 2 U” junta outras 14 para nos dar a conhecer as versões originais, na voz de Prince, de canções que compôs para outros… E, ao mesmo tempo, observar como seria a sua relação de trabalho com os outros, já que se nota em que ocasiões lhes entrega maquetes com maior ou menor grau de espaço para dali partir para outra eventual visão final da canção. Esta ideia não traduz necessariamente graus diferentes de “confiança” nos artistas, mas talvez mais fortes ou libertas relações com as canções. Com Sheila E, por exemplo tanto regista uma primeira maquete para voz e piano de “Noon Rendez Vouz” como sugere o caminho para a abordagem instrumental e a produção de “Tha Glamorous Life” ou sugere uma visão quase final para “Holy Rock”…

“Originals” foi criado em parceria entre o Prince Estate e Jay-Z e inclui as versões originalmente criadas por Prince para canções como “Manic Monday” das Bangles, a já referida “The Glamorous Life” de Sheila E ou “Love… Thy Will Be Done” de Martika, num alinhamento que inclui ainda canções criadas para os The Family, Apollonia 6, The Time, Mazarati (banda de um antigo baixista dos Revolution), Jill Jones, Taja Sevelle ou Kenny Rogers, todas elas datando de um intervalo de dez anos, entre 1981 e 1991.

O disco – bem mais interessante do que um eventual ‘best of’ das canções nas versões dos artistas a quem os temas eram destinados – não representa uma expressão de algo que Prince destinava ao público. Apesar de haver ocasiões – como são os casos de “Make Up” (Vanity 6) ou “100 MPH” (Mazarati) – que sugerem já a ideia final da canção, estamos perante um conjunto de maquetes. Sim maquetes. Mas nas quais sentimos quase sempre um sentido de entrega e de sugestão de uma visão criativa… Seria uma tentativa de controlar os destinos possíveis para a sua música. Talvez assim fosse em casos da “família” de artistas e bandas que estavam diretamente sob o seu espaço mais próximo de influência (e que representam a esmagadora maioria das canções do disco). Mas há exceções. E com contrastes… E se em “Nothing Compares 2 U” há um fulgor que define uma visão emocional diferente da que Sinéad O’Connor fixou na sua versão, já no caso do tema das Bangles encontramos uma proposta de formas claras, mas sobre a qual Prince não parece sublinhar caminhos na interpretação… Ali não faz mais do que uma voz guia, o que indicia a cedência de espaço para a leitura das Bangles (que, convenhamos, é melhor do que a maquete).

“Originals” traduz mais um episódio de inteligente condução de destinos para as muitas gravações que moram num arquivo que, desde 2017, não está mais em Paisley Park mas sim num espaço à prova de tudo e mais alguma coisa, em Los Angeles… O que se seguirá?… Há possíveis novas reedições de álbuns históricos com extras inéditos. Há certamente muitos registos de atuações ao vivo… Maquetes, sem dúvida, que imagino nos mais variados patamares de arranjos e produção. E certamente haverá ali mais registos de sessões… Fala-se numas que Prince gravou com Miles Davis… Existirão? Caso sim, a coisa dava cá um disco!

“Originals”, de Prince, está disponível em CD e nas plataformas digitais numa edição da Warner. A edição em vinil tem lançamento previsto para 19 de julho.

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