1987. O legado que só mais tarde se escutou
Texto: NUNO GALOPIM
A fraca resposta a Pink Moon teve como consequência uma retirada de Nick Drake para Far Leys, desde logo notando os pais que o seu comportamento estava alterado. Houve por essa altura um período de observação num hospital psiquiátrico – onde ficou por uns dias – ao que se seguiu a prescrição de uma medicação. Durante algum tempo não trabalhou em música nova, mantendo contudo um hábito de visita à sala de música na casa dos pais, noutras ocasiões escutando discos no quarto, por vezes saindo para guiar nas estradas ali em volta.
Uma compilação com temas dos seus dois primeiros álbuns tinha entretanto sido editada nos EUA, merecendo até boa crítica. É contudo o regresso do produtor Joe Boyd que lhe dá alento, sobretudo quando este o desafia a fazer um novo álbum. Em inícios de 1974 é marcado tempo no estúdio onde já trabalhara, porém as suas outrora reconhecidas qualidades de cantor e intérprete estavam algo afetadas, obrigando-o a gravar o instrumental em separado e só depois a voz. Dessas sessões sairiam cinco temas que teriam assim definido o ponto de partida para um eventual quarto álbum. Sem novo material para continuar a gravar colocaram uma pausa nos trabalhos em junho. Nick nunca os retomaria, morrendo a 24 de novembro, desde então subsistindo um debate se terá sido acidente ou suicídio.
Cinco anos depois, e depois de localizadas algumas destas gravações ainda inéditas, a Island lançou Fruit Tree, uma caixa antológica juntando os três álbuns e quatro temas destas sessões. Anos mais tarde, ao procurar entre os arquivos da editora e do estúdio, novas gravações inéditas, datadas de sessões anteriores, são localizadas. Reunidas com os mesmos quatro temas gravados em 1974 (um quinto inédito só surgiria em disco em 2004), este lote de canções surgiu integrado num álbum de extras integrado numa nova edição da caixa Fruit Tree, lançada em 1986. Um ano depois, com o título Time of No Reply, o disco teria via própria através da Hannibal Records, editora de Joe Boyd.
Incluindo sobretudo temas de sessões realizadas em 1968, o álbum apresentava como título uma canção que se crê ser datada de uma etapa vivida em Aix-en-Provence em 1967 e registada juntamente com temas criados para Five Leaves Left mas acabando fora do alinhamento. Time of No Reply incluía ainda maquetes gravadas na casa dos pais entre 1967 e 68 (uma delas sendo uma versão de Been Smoking too Long, de Robin Frederik. Das sessões de 1974 surgiam ali Rider on the Wheel, Black Eyed Dog, Hanging on a Star e Voice From a Mountain.
Time of No Reply iniciou uma série de edições que, ao longo dos anos seguintes, juntaram outras gravações inéditas a estas, alargando o retrato da vida musical de Nick Drake até mesmo a sessões familiares registadas em casa. Entre estas outras antologias contam-se, até aqui, títulos como Made to Love Magic (2004), A Treasury (2004) e Family Tree (2007).
Deixe uma Resposta