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Novidades editoriais: que livros nos trará 2016

Texto: HELENA BENTO e JOÃO SANTANA DA SILVA

2015 terminou com novas editoras a surgir no meio editorial português e a ousar apostar em autores novos, contos e ensaios. Em 2016, a publicação promete continuar a ser prolífica. Que novidades nos vão trazer as editoras?

Malcolm Lowry

Surgida em 2015, a Elsinore, a mais recente chancela da editora 20|20, começa o ano com a publicação, a 29 de fevereiro, de Vozes de Chernobyl, da bielorussa Svetlana Alexievich, Prémio Nobel da Literatura em 2015. O livro, um dos mais elogiados da autora, reúne centenas de entrevistas a pessoas que viveram, direta ou indiretamente, a tragédia nuclear de abril de 1986, desde entrevistas a cidadãos inocentes e soldados que estiveram no local a socorrer as vítimas a testemunhos de elementos do regime soviético que tentaram silenciar o desastre nuclear. Ainda em fevereiro, chega às livrarias A Casa Branca: O Mundo Privado dos Presidentes dos Estados Unidos (editado pela Vogais, outra chancela da 20|20), que apresenta os bastidores da vida dos casais presidenciais através de testemunhos de pessoas que lá trabalham. Voltando à Elsinore, destaque para a publicação, em março, de Uma Rapariga é uma Coisa Inacabada, da escritora britânica Eimear McBride, um romance muitíssimo aclamado pela crítica e vencedor de vários prémios. Em abril, e ainda pela Elsinore, chega às livrarias Crash, de J. G. Ballard, romance pós-moderno que mistura violência e erotismo, publicado pela primeira vez em 1973 e adaptado ao cinema por David Cronenberg. Recorde-se que já no ano passado a Elsinore editara, também de J. G. Ballard o título Arranha-Céus, que retrata de forma monumental e alucinada uma sociedade reduzida às suas formas mais primitivas.

O último volume da tetralogia A Amiga Genial, da escritora italiana Elena Ferrante, já se encontra nas livrarias. A edição é da Relógio D’Água, que começou a publicar Ferrante em 2014, com o volume Crónicos do Mal de Amor, que reúne os romances Um Estranho Amor, Os Dias do Abandono e A Filha Obscura. Da escritora italiana de quem pouco se sabe (escreve sob pseudónimo e o mistério da verdadeira identidade continua a fazer correr muita tinta nos principais jornais internacionais) sairão ainda A Praia da Noite e Fragmentos, anteriores à tetralogia A Amiga Genial, centrada em Nápoles.

Está prevista também a edição de novos volumes da autobiografia de Karl Ove Knausgård e dois ensaios do autor norueguês que fazem parte do ciclo Outono, Inverno, Primavera e Verão. Na língua portuguesa, destaque para os novos romances de Hélia Correia, Um Bailarino na Batalha, Ana Teresa Pereira, Correntes Subterrâneas, Rui Nunes, A Crisálida. Teremos ainda Todos os Contos de Clarice Lispector, reunidos e apresentados pelo seu biógrafo Benjamin Moser, o romance de Marlon James A Brief History of Seven Killings, vencedor do Booker de 2015, que será lançado em finais de maio, Um Holograma para o Rei e O Círculo, de Dave Eggers, e O Cartel, de Don Winslow, que será em breve adaptado para cinema por Ridley Scott.


Clarice Lispector

Podemos contar ainda com a publicação, também pela Relógio D’Água, de obras de Carson McCullers, Nabokov, Iris Murdoch, Sylvia Plath e Philip K. Dick. De Rebecca West será publicado Estufa com Ciclâmenes, uma histórica reportagem dos julgamentos de Nuremberga. 2016 promete ser, de facto, um ano brilhante para a Relógio D’Água, que além de todas estas novidades vai editar uma coleção de clássicos – 35 Clássicos para Leitores de Hoje – para comemorar os seus 35 anos de existência. Dela farão parte, entre outros, O Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, e Sensibilidade e Bom Senso, de Jane Austen. Na área da filosofia, a que a Relógio D’Água promete dar particular atenção este ano, refira-se a publicação de obras de Sloterdijk e Bertrand Russell. Haverá ainda novos ensaios de António Barreto, George Steiner, Maria Filomena Molder e Umberto Eco, e antologias de George Orwell e de Chesterton. Outra grande novidade da editora de Francisco Vale é o relançamento da coleção Viagens, que contará com autores como Octavio Paz, Lawrence Durrell, Virginia Woolf e Robert Louis Stevenson.

A renascida Livros do Brasil (chancela da Porto Editora) também tem novidades. Na sua linha de publicação dos chamados “grandes escritores”, acabou de publicar A Cidade de William Faulkner, segundo tomo de uma trilogia que começou com A Aldeia e terminará ainda este ano com a publicação de A Mansão, com nova tradução e pela mesma editora. Igualmente clássico, Malcolm Lowry terá um seu “romance perdido” a sair de debaixo do vulcão e a ser publicado também na Livros do Brasil – Em Lastro Rumo ao Mar Branco -, assim como o livro de contos de James Salter (que nos deixou em junho do ano passado) A Última Noite e Outras Histórias. Relança-se ainda os canónicos Por Quem os Sinos Dobram, de Ernest Hemingway, e O Livro da Selva, de Rudyard Kipling.

A Assírio & Alvim destaca a reedição de Ruy Cinatti e Ruy Belo, o primeiro com um volume da sua poesia publicada em vida, e Ruy Belo com País Possível (um excelente livro), que verá nova edição. Há ainda novos livros de poesia de Pedro Eiras (o “ficcionado” Cartas reencontradas de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro), de Helder Moura Pereira, de Adília Lopes e de José Tolentino Mendonça, entre outros. De assinalar também a estreia de Filipa Leal no catálogo da editora, com Vem à Quinta-feira. A Assírio, como não poderia deixar de ser, vai ainda ao baú dos clássicos e resgata a obra de Almada Negreiros na coleção breve Gato Maltês, com a publicação de Ficções Escolhidas e Manifestos (que inclui o famoso Manifesto Anti-Dantas).

Com a chancela Porto Editora, sairá o mais recente livro de Richard Ford, Francamente, um conjunto de quatro novelas com Frank Bascombe (personagem reincidente) como protagonista, e ainda A Guitarra Azul de John Banville. Ainda verá a luz um conjunto de contos dispersos de Francisco José Viegas, A Poeira que Cai sobre a Terra e Outras Histórias de Jaime Ramos, e a reedição de A máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe. Também dentro do grupo da Porto Editora, deve ser tida em conta a Sextante, que terá novo livro de contos de Rubem Fonseca, Histórias Curtas (já aqui falámos de outro livro de contos do autor, Amálgama), e uma espécie de reflexão autobiográfica de Ana Zanatti, O Sexo Inútil.

Europa, do poeta Rui Cóias, é o novo título da coleção de poesia da Tinta-da-China, organizada por Pedro Mexia. O livro já se encontra nas livrarias e segue-se a Função do Geógrafo (2000) e A Ordem do Mundo (2006), ambos editados pela extinta Quasi. A coleção ganhará outro novo título ainda este semestre. Chama-se Ver no Escuro e é da autoria de Cláudia R. Sampaio, autora de Os Dias da Corja e A Primeira Urina da Manhã. A Máquina de Escrever entrevistou-a no ano passado e o seu novo livro é aguardado com muita expectativa. Um dos poemas de Ver no Escuro diz assim: “Se te esqueceres de mim / criarei a dança das sibilas cintilantes / usarei um cinto de amargura e uma / camisolinha de gelo / e gravarei nos pés o contrário do / teu caminho”.

Nas livrarias, e editado também pela Tinta-da-China, encontra-se já a coletânea Nietzsche e Pessoa – Ensaios, organizada por Bartholomew Ryan, Marta Faustino e Antonio Cardiello, investigadores do Instituto de Filosofia da Universidade de Lisboa (Ifilnova). Nela procura-se explorar as afinidades entre Fernando Pessoa e Friedrich Nietzsche, lendo o poeta à luz do filósofo e o filósofo à luz do poeta. A coleção de literatura de viagens da editora terá dois novos títulos – Sibéria, de Olivier Rolin, e Espanha, de Jan Morris. Passos Perdidos, o novo romance de Paulo Varela Gomes, autor de Hotel e vencedor do Prémio Pen Narrativa em 2015, já se encontra nas livrarias. O mesmo destino terá em breve o romance com que o jornalista do Público Rui Cardoso Martins se estreou em 2006, E se eu Gostasse Muito de Morrer, que será reeditado também pela editora de Bárbara Bulhosa. Destaque ainda para a nova Granta (7ª edição), que chega às livrarias em maio.

A Antígona continua a lançar ensaios intemporais. Depois de Os Empregados de Siegfried Kracauer, no ano passado, agora é a vez de O Universo Concentracionário, de David Rousset (já disponível nas livrarias), que dedica páginas e páginas à lógica interna e aos mecanismos de hierarquia dos campos de concentração nazis. Após a publicação de Debord, Vanegeim e outros, a Antígona continua a publicar as reflexões urbanas dos pensadores da Internacional Situacionista. Desta feita, com Viagem aos Confins da Cidade, do italiano Leonardo Lippolis, um “situacionista” de uma nova geração que, tal como Debord, obriga a olhar a cidade como um local que faz ou destrói o indivíduo, e que aqui se debruça sobre esta espécie de “não-lugares” pós-modernos que são os arranha-céus e seus derivados, pertencentes a uma “catastrófica distopia” urbana. Há ainda Rilke, Pasolini, Thoreau e Robert Louis Stevenson, do qual serão também publicados dois ensaios: A Apologia do Ócio e A Conversa e os Conversadores. Em março, há que estar atento, ainda, à publicação inédita em Portugal da escritora sueca Karin Boye (que se suicidou em 1941), nomeadamente com a distopia Kallocaína, escrita já em pleno III Reich.

Editora estreante nestas andanças é a Ítaca (embora a sua editora, Isabel Castro Silva, já leve uma década de experiência na Relógio D’Água e na Sextante). Inspirada pelo poema homónimo de Kavafis, a Ítaca abriu o seu catálogo com A Fénix Islâmica, uma reportagem de Loretta Napoleoni sobre o Daesh. Mas a grande bomba editorial poderá mesmo vir a ser a tradução prometida de Between the World And Me, de Ta-Nehisi Coates, um ensaio-testemunho pessoal sobre o racismo nas cidades americanas contemporâneas, considerado um dos melhores livros do ano nos Estados Unidos, onde venceu o National Book Award.


Patti Smith

Quem não tem mãos a medir é a Quetzal, que tem vindo, nos últimos anos, a reeditar a obra completa de Vergílio Ferreira. No ano do centenário do escritor, que também aqui celebrámos, a editora compromete-se a disponibilizar toda a sua obra, resgatando mesmo os há muito renegados e esgotados Onde Tudo Foi Morrendo, Vagão “J” e O Caminho Fica Longe (o romance de estreia, publicado em 1943). A excelente notícia para os leitores, e sobretudo para os fãs de Vergílio Ferreira, é que já não será preciso andar em alfarrabistas à pesca das velhas e (nalguns casos) já raras edições da Bertrand. Fora do magnetismo secular de Vergílio, há novo romance de José Rentes de Carvalho, o distópico 2084, de Boualem Sansal (premiado em França) e ainda a tradução de M Train, de Patti Smith, que se seguirá a Just Kids (já traduzido pela Quetzal com o título Apenas Miúdos). Com mais sentido de humor, embora sempre melancólico, destaque-se ainda o romance de estreia de Nuno Costa Santos, Céu Nublado com Boas Abertas, e a coleção de crónicas sobre cinema de Dinis Machado, o O Lugar das Fitas, reunidas por Marta Navarro, que também tinha reunido as crónicas do autor sobre futebol, num volume intitulado A Liberdade do Drible, sobre o qual escrevemos aqui.

Em junho, e editado pela Orfeu Negro, chega às livrarias Técnicas do Observador, de Jonathan Crary, referência fundamental nas áreas da Cultura Visual e História de Arte, e Azul – História de Uma Cor, de Michel Pastoureau – um dos maiores especialistas na simbologia e heráldica – que se segue a Preto – História de uma Cor, editado em 2014. Pela Orfeu Mini, colecão de livros ilustrados da Orfeu Negro, chegam-nos ainda este semestre A Baleia, do premiado ilustrador britânico Benji Davies, e O Dia em que os Lápis Voltaram, de Drew Daywalt e Oliver Jeffers, que se segue a O Dia em que os Lápis Desistiram. Desta vez, “os lápis perdidos e esquecidos pelo Duarte escrevem-lhe a partir de vários cantos do mundo, pois querem por fim regressar a casa”, lê-se no press release da editora. Destaque ainda para o novo livro da premiada ilustradora Catarina Sobral, ainda sem título. Vencedora em 2014 de um prémio internacional de ilustração atribuída pela Feira do Livro Infantil de Bolonha, Catarina Sobral é autora de livros como O meu Avô, Greve e Achimpa.

Destaque ainda para as novidades editoriais das chamadas pequenas editorais. Em fevereiro, a Do Lado Esquerdo, de Maria de Sousa e Nuno Abrantes, publicou o livro Há Dias II, de Bénédicte Houart (texto) e Juliana Martins. Ainda este mês, chega às livrarias O Martelo, de Adelaide Ivánova, editado pela Douda Correria. Em fevereiro, a Não (Edições) traz-nos Chroma, de Derek Jarman, traduzido pela primeira vez em português por João Concha e Ricardo Marques. Em março, editado também pela editora de João Concha, chega-nos A Paisagem num Dia Algo Nublado Vista com Óculos de Sol com Lentes Polarizadas, com texto de Carlos Alberto Machado e fotografias de Nuno Morão, e em abril é a vez de O Dom da Palavra, um livro ilustrado para crianças, com poemas de Catarina Nunes de Almeida.

1 Comment on Novidades editoriais: que livros nos trará 2016

  1. tudo livros que não vou ler. de cem se aproveita um. já vi o que a casa gasta e faço votos para que tenha o destino da imprensa.

    enquanto são vivos e têm amigos são todos génios. batem a alpercata e é venha outro que esse já deu o que tinha a dar. viva a net.

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