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O rock começou aqui?

Seleção e textos: NUNO GALOPIM

Uma lista com discos que não costumam figurar nas listas mais habituais. Porque nem só das memórias canónicas deve viver a revisitação da história da música. Aqui fica o segundo disco… E este é um single com história.

Há listas e listas… E nas mais canónicas são muitos os discos que se repetem… E há razões para que assim seja, porque há discos que escreveram episódios maiores na história da música popular. Mas há outros que costumam ficar de fora. E que tiveram também o seu papel e relevância, nem que junto de nichos. Alguns deles serão episódios menos célebres de carreiras que fixaram outros títulos como as suas referências. Outros são peças mais esquecidas mas que vale a pena não deixar perdidas no silêncio…

Resolvi focar a lista em edições posteriores a 1948, o ano em que é apresentado o formato de LP… O que não quer dizer que pelo caminho não apareça aqui um ou outro single ou EP… Tal como acontece hoje, com este single de 1951.

Tematicamente a lista vai andar pelos universos da música popular, o que abarca de resto uma vasta frente de géneros.

Jackie Brenston and his Delta Cats, “Rocket 88”
(1951)

É claro que o rock’n’roll não começou nem quando Bill Halley lançou Rock Around The Clock nem quando, ainda antes, e com menos visibilidade, Elvis Presley entrou nos estúdios da Sun Records para fazer as suas primeiras gravações. Terá então sido de Chuck Berry o primeiro disco de rock’n’roll? De Little Richard? De Sister Rosetta Tharpe? De Fats Domino? De alguém mais?… As opiniões dividem-se e há quem aponte Rocket 88, um single editado em 1951 por Jackie Brenston and his Delta Cats como aquele que possa ter sido o primeiro… A decisão está longe de unânime, até porque há quem aponte que se trata afinal de uma mera derivação do blues tradicional de 12 compassos e não de uma expressão das características mais distintivas que afirmariam a identidade do rock’n’roll em alguns discos que surgiram um pouco mais adiante. Primeiro ou não, a verdade é que em Rocket 88 (tal como sucedeu então com outros discos seus contemporâneos) há sinais de algo novo que vinha a caminho. Primeiro, pioneiro ou antecessor, a verdade é que é um episódio que tem que se lhe diga. E até uma mitologia a si associado.

A canção é cantada e assinada por Jackie Brenston, que depois trabalhou como saxofonista de Ike Turner. Os Delta Cats com que Jackie Brenston se apresentava não eram senão o próprio Ike Turner (então com 19 anos) e os seus Kings of Rhythm, que então tocavam num hotel em Clarksdale, no Mississipi. A canção, que sugere ecos do instrumental Cadillac Boogie de 1947, tem por título uma referência a um modelo da marca de automóveis Oldsmobile.

A invulgar intensidade da canção deve-se por um lado à abordagem mais vincada tanto do piano como do saxofone. Contudo, reza a história que as características sonoras deste disco se devem sobretudo ao facto de, num acidente (na mesma Highway 61 que Dylan depois mitificou), se ter danificado o amplificador do guitarrista Willie Kizart. Usando páginas amachucadas de jornais para manter as peças no seu lugar dentro do aparelho, o som distorcido ganhou forma… Sam Philips (a coisa tinha de passar por lá, claro), que produziu a gravação na hora em que levaram esta canção a estúdio, gostou do som. E assim ficou… Não foram os únicos já que o single, editado pela Chess Records, chegaria ao número um na lista de R&B.

Jackie Brenston and his Delta Cats gravaram cinco singles para a Chess Records entre 1951 e 1952. Houve já várias edições de Rocket 88, uma delas recente, expressamente prensada para o Record Store Day.

Há uma multidão de nomes a escutar entre os que, em finais dos anos 40 e na primeira metade da década de 50 ajudaram a definir os caminhos pioneiros do rock’n’roll. Na verdade entre aqueles que podem disputar com este Rocket 88 o título de primeiro disco de rock’n’roll estão os singles:

Strange Things Happening Everyday, de Sister Rosetta Tharpe (1944)
The Fat Man, de Fats Domino (1949)
Rock Awhile, de Goree Carter (1949)
Rock the Joint, de Jimmy Preston (1949)

Podem ler aqui o anterior título desta lista:
Yma Sumac, “Voice of The Xtabay” (1950)

5 Trackbacks / Pingbacks

  1. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Les Baxter – Máquina de Escrever
  2. 4. Georges Brassens (1952) – Máquina de Escrever
  3. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Odetta, 1954 – Máquina de Escrever
  4. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Harry Belafonte – Máquina de Escrever
  5. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Elvis Presley – Máquina de Escrever

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