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3. Georges Brassens (1952)

Texto: NUNO GALOPIM

Uma lista com discos que não costumam figurar nas listas mais habituais. Porque nem só das memórias canónicas deve viver a revisitação da história da música. Aqui fica o quarto disco… E este abriu caminhos para uma nova geração de nomes da canção em língua francesa.

Foi um professor de escola o primeiro responsável pelo desafio lançado a um ainda muito jovem Georges Brassens (1921-1981) para que aprofundasse um interesse pela poesia que então partilhava com um outro, pela música. Em Paris, para onde se muda em 1940, aprende por si a tocar piano e passa horas a fio numa biblioteca municipal, a ler. Compôs algumas canções, mas é pela escrita que a sua voz se faz “ouvir” nos anos 40, quer em textos que publica em periódicos libertários quer em livro, estreando-se com Laile Kakamou, romance que depois passa a ser impresso com o título La Lune Écoute Aux Portes. A maior concentração de atenções na música chega já no início da década de 50 quando, animado por palavras de amigos, se apresenta no cabaret da cantora Patachou em Monmartre. Visivelmente surpreendida com a descoberta que ali faz partilha pouco depois o entusiasmo com alguns dos habituais frequentadores da sua casa, um deles o diretor da Phillips, editora pela qual Georges Brassens assina, editando alguns 78 rotações ainda em 1952 e, perto do final do ano, o seu álbum de estreia, uma segunda prensagem surgindo meses depois, em finais de 1953.

Lançado originalmente com o título Georges Brassens chante les chansons poétiques (…et souvent gaillardes) de… Georges Brassens, entretanto rebatizado com o mais curto La Mauvaise Reputation (que é o título da faixa de abertura), o disco apresenta um conjunto de oito canções nas quais Brassens se faz acompanhar apenas pela sua guitarra e pelo contrabaixo de Pierre Nicolas, músico que durante mais de 30 anos tocará a seu lado. As canções, na sua maioria com letra e música do próprio Brassens, valorizam claramente as palavras. E estas não escondem pontos de vista críticos, por vezes sob pontos de vista satíricos, sobre a sociedade do seu tempo. La Mauvaise Reputation, por exemplo, fala de um homem antimilitarista (como Brassens o era) que se recusa a ver as celebrações do dia nacional francês (o 14 de julho). Le Gorille, com música de Eugène Metehen e letra de Brassens, usa um conjunto de personagens e uma situação caricata para, no fundo, criticar a pena de morte (que só seria abolida em França em 1981).

O disco representou o arranque de uma carreira que ajudou a definir uma nova e importante etapa da canção em língua francesa, dando voz a uma geração de vozes que vincaram, tal como Brassens, o poder da palavra no terreno da canção.

“Georges Brassens chante les chansons poétiques (…et souvent gaillardes) de… Georges Brassens” de Georges Brassens teve edição original num LP de 12 polegadas editado pela Phillips em 1952. Há depois toda uma história de reedições em vinil e CD, algumas delas relativamente fáceis de encontrar atualmente. O disco está também disponível em várias plataformas digitais.

Da discografia de Georges Brassens vale a pena descobrir álbuns como:
“Georges Brassens interprète ses dernières compositions” (1953)
“Georges Brassens, sa guitare et ses rythmes” (1954)
“Le Pornographe” (1958)

Se gostou, experimente ouvir:
Jacques Brel
Léo Ferré
Georges Moustaki

E podem aqui ler títulos anteriores desta lista:
1. Yma Sumac, “Voice of The Xtabay” (1950)
2. Jackie Brenston & His Delta Cats, “Rocket 88” (1951)
3. Les Baxter and His Orchestra, “Ritual of The Savage” (1951)

13 Trackbacks / Pingbacks

  1. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Odetta, 1954 – Máquina de Escrever
  2. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Harry Belafonte – Máquina de Escrever
  3. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Elvis Presley – Máquina de Escrever
  4. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Dalida – Máquina de Escrever
  5. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Ruth Brown, 1957 – Máquina de Escrever
  6. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Johnny Cash, 1957 – Máquina de Escrever
  7. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Martin Denny, 1957 – Máquina de Escrever
  8. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Spike Jones, 1957 – Máquina de Escrever
  9. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Duane Eddy, 1958 – Máquina de Escrever
  10. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Peggy Lee, 1958 – Máquina de Escrever
  11. Máquina de Escrever
  12. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Esquivel, 1959 – Máquina de Escrever
  13. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Babatunde Olatunji – Máquina de Escrever

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