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7. Dalida (1957)

Texto: NUNO GALOPIM

Uma lista com discos que não costumam figurar nas listas mais habituais. Aqui fica o sétimo disco… E este assinalou a estreia em álbum de Dalida num disco que cruza influências de geografias da Europa do sul e chega mesmo a visitar os terrenos do fado.

O fenómeno em que pouco depois se tornaria estava ainda longe de se poder imaginar, mas quando em 1956 lançou o seu primeiro EP, Iolanda Cristina Gigliotti inscrevia na história da canção popular o nome pelo qual ainda hoje é recordada: Dalida. Nascida no Cairo em 1933, filha de uma família italiana, tinha já conquistado um título de Miss Egito em 1954 e iniciado uma carreira como manequim. Descoberta por Bruno Coquatrix (que desde 54 comandava os destinos artísticos do Olympia), a cantora viu em pouco tempo reconhecida a aposta na música que decidira levar a Paris. O editor Eddie Barclay chamou-a e em 1956 editava um primeiro EP com Bambino, uma versão da canção napolitana Guaglione do italiano Giuseppe Fanciulli.

Bambino seria, no ano seguinte, o tema de abertura do primeiro álbum de estúdio, muitas vezes referido pelo título Son Nom Est Dalida. É um disco que traduz um sentido de encantamento por um certo exotismo mediterrânico e que explora de forma quase cinematográfica os ambientes das canções pelas quais a voz, com sotaque evidente da cantora aborda um conjunto de canções de uma luminosidade aberta a influências de várias geografias culturais tanto do sul da Europa como do magreb, num jogo de elementos que, mesmo sem as ligações mais vincadas ao jazz e à música latina, comum aos terrenos “exótica” de então, acaba por partilhar características em comum. Fechando os olhos, a imaginação, por estes sons, poderia facilmente levar-nos aos ambientes de um qualquer filme musical imaginário com cenário algures numa soalheira Europa do sul…

A música portuguesa tem uma presença curiosa neste primeiro álbum de Dalida. Não só um dos temas do alinhamento, com o título Madona, é uma versão de Barco Negro (internacionalizado por Amália Rodrigues, mas na verdade já de si uma abordagem, também com nova letra, a Mãe Preta, um original brasileiro de 1943), como há, logo na face A, uma canção com o título Fado, pela qual passam ecos, igualmente lidos pelo mesmo prisma de um certo exotismo cinematográfico, de uma ideia do fado (e sem guitarra portuguesa). A ligação a Amália (que Dalida admirava) teria expressão em outros discos seus. Como exemplos podemos recordar do alinhamento de Miguel, de 1957, Aïe ! Mourir pour toi (que Aznavour compôs para a fadista portuguesa) ou, do terceiro álbum, Gondolier (1958), J’écoute chanter la brise, uma versão de Sempre que Lisboa canta.

“Son Nom Est Dalida” teve edição original num álbum de dez polegadas, a 33 rpm. Houve reedições sucessivas, algumas mais tarde apresentando o mesmo alinhamento com o título “Bambino”.

Da discografia de Dalida vale a pena descobrir álbuns como:
“Gondolier” (1957)
“Dalida” (1959)
“Les Enfants du Pirée” (1960)

Se gostou, experimente ouvir:
Nana Mouskouri
Adamo
Charles Aznavour

E podem aqui ler títulos anteriores desta lista:
1. Yma Sumac, “Voice of The Xtabay” (1950)
2. Les Baxter and His Orchestra, “Ritual of The Savage” (1951)
3. Georges Brassens, “Georges Brassens chante les chansons poétiques (…et souvent gaillardes) de… Georges Brassens” (1952)
4. Odetta, “The Tin Angel” (1954)
5. Harry Belafonte, “Calypso” (1956)
6. Elvis Presley, “Elvis’ Christmas Album” (1957)

9 Trackbacks / Pingbacks

  1. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Ruth Brown, 1957 – Máquina de Escrever
  2. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Johnny Cash, 1957 – Máquina de Escrever
  3. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Martin Denny, 1957 – Máquina de Escrever
  4. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Spike Jones, 1957 – Máquina de Escrever
  5. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Duane Eddy, 1958 – Máquina de Escrever
  6. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Peggy Lee, 1958 – Máquina de Escrever
  7. Máquina de Escrever
  8. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Esquivel, 1959 – Máquina de Escrever
  9. 100 discos (daqueles que não costumam aparecer nas listas): Babatunde Olatunji – Máquina de Escrever

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